Qual a relação do sono com a tireoide? Noites maldormidas podem afetá-la

Você já passou por uma fase em que sentia um cansaço extremo durante o dia independentemente da quantidade de horas dormidas? Isso pode ser efeito de uma relação que muita gente desconhece, entre a qualidade do sono e o funcionamento da tireoide.

A tireoide é mais famosa por regular o metabolismo, mas quando o descanso noturno não vai bem, ela também pode sofrer as consequências. O sono de baixa qualidade pode alterar a produção de diversos hormônios, incluindo o TSH (hormônio tireoestimulante), que é produzido na hipófise e regula a produção de T3 e T4 pela tireoide.

“Na prática clínica, as alterações hormonais da tireoide costumam estar mais relacionadas a doenças próprias da glândula do que ao sono, mas alguns estudos sugerem que a privação do sono pode contribuir para o desenvolvimento de hipotireoidismo”, explica Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Luiz Fernando Santos, endocrinologista do AME Itapeva, reforça essa relação. “Noites maldormidas podem alterar a produção dos hormônios tireoidianos, afetando o metabolismo e aumentando o risco de disfunções como hipotireoidismo e hipertireoidismo”, diz. Ele destaca que a privação do sono pode favorecer inflamações e desequilíbrios metabólicos que comprometem a saúde tireoidiana.

Efeitos do sono na saúde da tireoide
Estudos indicam que dormir menos de seis horas por noite pode aumentar o risco de hipotireoidismo, condição em que a glândula passa a produzir hormônios em quantidade insuficiente. Os principais sintomas incluem cansaço excessivo, dificuldade para perder peso, queda de cabelo, pele ressecada e sonolência diurna.

Pessoas com hipotireoidismo podem sentir uma necessidade maior de sono e até relatar sensação de lentificação, com dificuldade para se manterem alertas durante o dia.

Por outro lado, o hipertireoidismo, caracterizado pelo excesso de hormônios tireoidianos, pode causar insônia, ansiedade e sono fragmentado. “Pacientes com hipertireoidismo frequentemente relatam dificuldade para dormir, sensação de inquietação e até sudorese noturna, devido ao metabolismo acelerado”, acrescenta Santos.

Em geral, quando a relação entre o sono e o funcionamento da tireoide não anda das melhores, alguns sintomas são mais comuns:

No hipotireoidismo: sonolência excessiva, cansaço persistente, dificuldade para acordar, sensação de lentificação e sono prolongado.

No hipertireoidismo: insônia, sono agitado, ansiedade noturna, pesadelos frequentes e sudorese noturna.

O que fazer para melhorar?
Embora a relação entre a higiene do sono e a saúde tireoidiana não seja totalmente compreendida, adotar bons hábitos pode ajudar a manter o equilíbrio hormonal. Entre eles estão:

Manter horários regulares para dormir e acordar;

Evitar o uso de telas (celular, computador e televisão) antes de dormir

Reduzir o consumo de cafeína e alimentos estimulantes no período noturno;

Praticar atividade física regularmente;

Controlar o estresse e adotar técnicas de relaxamento, como meditação e respiração profunda.

“Essas medidas ajudam a regular o ciclo do sono e, consequentemente, podem contribuir para um metabolismo mais equilibrado”, explica Santos.

A culpa não é só do sono
Além do sono, diversos fatores influenciam a saúde da tireoide. Entre eles, a genética, a alimentação (especialmente a ingestão de iodo e selênio), o estresse, o uso de medicamentos como amiodarona e a exposição a disruptores endócrinos, como bisfenol A (BPA), pesticidas e metais pesados.

“No Brasil, o sal de cozinha é iodado para reduzir o risco de deficiência desse nutriente essencial para a produção dos hormônios tireoidianos”, lembra Zilli. Isso explica porque pessoas com hipertireoidismo devem moderar o consumo de sal.

Independentemente da causa, os sintomas de alterações na tireoide citados anteriormente são os mesmos. E, caso eles sejam sentidos, o melhor caminho é procurar um especialista para a realização de exames e, caso haja comprovação de que a tireoide não esteja funcionando corretamente, dar início ao tratamento. Ele varia de acordo com o caso, mas pode envolver desde reposição hormonal e adoção de medicamentos até cirurgias em casos mais graves.